Sunday, June 10, 2007

Peça de teatro

"Estou exaurida!" Repetiu. Abrira a porta, fechara-a atrás de si, ligara a luz e deixara-se cair na poltrona castanha. No silêncio da sua casa, o som daquela palavra: "exaurida" fizera com que se sentisse a personagem de uma peça. E uma personagem importante. O que é que se seguiria? Sem dúvida, seria alguma dama que entrava em casa, cheia de sacos de compras. Seria prontamente rodeada por uma, não, por duas, criadas de uniforme ou farda, que lhe levariam os sacos. Não estaria sozinha. À sua frente um marido ou uma filha casadoira. Como é que seria a trama? Para já, parecia-lhe uma peça antiga e convencional. Tipo uma comédia de Oscar Wilde. Várias peripécias que levariam o público a rir e um final feliz que deixaria todos bem dispostos.
Ela não trazia sacos. À sua espera não estava ninguém. E sentia-se apenas exausta. O exaurida não lhe pertencia, mas à personagem da peça de teatro.

1 Comments:

Blogger tufa tau said...

ter-se-á esquecido que já tinha tirado a máscara?

Tuesday, June 26, 2007 at 11:45:00 PM GMT+1  

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