Friday, February 08, 2008

Dias anoitecidos

Estava com pressa para chegar a casa e por isso optou por não pernoitar no hotel da estação de serviço. Limitou-se a atestar o depósito e a ingerir mais um café com uma sandes mista. Entretanto lá fora já escurecera, apesar de ainda não ser muito tarde, sete horas ou mais exactamente dezanove. Tinham finalmente entrado na época do ano em que cresciam os dias. Voltou para o carro, saiu do estacionamento e regressou à estrada. Além de ter ficado escuro e da chuva morronhenta que se instalara desde a manhã, também descera um ligeiro nevoeiro, mais perceptível nas luzes dos faróis dos poucos carros com que se cruzou. Desligou o rádio para concentrar-se melhor na condução. Decorreu uma meia hora, sem que passasse por qualquer outro veículo ou a luz de uma casa distante assinalasse a a presença de outro ser vivo, e foi então que passou pela primeira figura. Estava na berma, imóvel, vertical e escura. Assustou-o porque apenas a viu em cima do momento. Não interferia com o seu trajecto. Registou o susto. Lembrava-se de ter pensado: "que estranho". Sem saber se era homem ou mulher, interrogou-se sobre o que faria naquele descampado. Não se movera, não fizera qualquer gesto. Não ia a andar para algum sítio, não parecia esperar para atravessar a estrada ou pela boleia de um familiar ou de um desconhecido. Mais meia hora passada, mas desta vez com alguma antecedência, vislumbrou novo vulto meio encoberto pelo nevoeiro. Apesar de se esforçar para o ver melhor e ter até abrandado na velocidade, não conseguiu sequer descobrir o sexo da pessoa imóvel e escura na beira da estrada.