Wednesday, March 19, 2008

Música ao longe

Algures um cão preso ladra como resposta a quem pontapeou um caixote de lixo. De vez em quando passa um carro apressado. O cão não se cala. Tem um ladrar forte e zangado. Calou-se por instantes. Escuta-se melhor a rua. Um outro carro que passa, sem se deter, faz desta rua caminho para outro destino
Se ficar tão calada que a escuridão me atinja, vou conseguir ouvir outros sons que já não serão ruídos reveladores de gestos ou condições, mas sinais de outras realidades. Pela nossa rua vivem vários gatos ditos vadios. Envolvem-se ocasionalmente em lutas com gritos e gemidos que soam como de homens ou crianças Têm passos leves que mal se escutam. Chama mais a atenção como cessam a maior imobilidade para rapidamente desaparecerem entre as sombras. Quando fiz algumas quase directas em casa apercebi-me como existe um momento especial antes do Sol nascer. Parece que o outro mundo começa a ser banido com o surgimento dos pássaros. Não os vejo, mas ouço-os. À medida que começa a luz, precedendo-a ou anunciando-a, ouço-os, e o seu chilrear faz aparecer o dia.