Tuesday, November 20, 2012

Casais


Esperam os dois no corredor. Cada um com o seu advogado. Não se olham, nem falam um com ou outro.
Ela pensa, pelo menos ele não trouxe para aqui a outra. Ele põe-se a imaginar se ela já terá arranjado alguém e sem saber porquê essa ideia aborrece-o.
Os seus advogados são jovens. Ele tem uma advogada, morena e magra, com um aspecto seguro e competente. Ela um advogado só um pouco mais velho, com um ar simpático e apaziguador. Ambos terminaram há pouco o estágio, embora não se conhecessem por serem de faculdades e cidades diferentes. Tinha sido o advogado dela a sugerir que conversassem antes. Ela respondera que nem pensar, que ele tinha de pagar pelo que fizera. Mesmo assim e por sua iniciativa o seu advogado combinou um encontro com a colega. No dia marcado, apenas a colega. O cliente também se recusara a vir. Já conhecia a mulher, dissera, com ela não havia acordos. Os dois advogados tinham ido tomar um café, na pastelaria ao lado do escritório. "Que chatice, terem faltado os clientes. Com um pouco de boa vontade aquilo resolvia-se bem", comentara ele. Ela perguntara-lhe em que acordo estava a pensar. E ele que não pensara em nenhum, encolhera os ombros. Dali tinham passado para outros temas. O curso, as dificuldades em estabelecerem-se. Tinham marcado um jantar e depois outro.
Entretanto, a funcionária veio chamá-los. Conduziu-os ao gabinete do Sr. Juiz. Lá dentro, este de pé, aguarda que entrem. Cumprimentou os advogados e depois aos dois. Fala-lhes da conversão para o mútuo. "Podem ficar já hoje divorciados" anuncia-lhes para os convencer. "E sem ser preciso passarem por um julgamento público, no qual tenham de debater a vossa intimidade". Ele acha boa ideia. Ela não. Não pensa na sua intimidade, pensa só em expôr a dele. Apontá-lo como o marido adúltero, que não cumpriu os votos sagrados. Não há acordo. O processo deve pois prosseguir. O advogado pensa que vão haver mais jantares.