Monday, September 07, 2015

08 - A Fotografia


Lembrava-se pouco da tia-avó Bárbara. Baptizaram-na com o seu nome e viu-a algumas vezes quando era criança. Nessas visitas, encontrava uma velhinha meio alheada do que se passava à sua volta, mas que às vezes a olhava com carinho e lhe oferecia chocolates brancos. 
Contaram-lhe que tinha ficado afectada com a morte do noivo num acidente. Foi sabendo que cada vez se isolava mais na casa de família até que morreu.
Ficou surpreendida quando soube que no testamento lhe deixara tudo. Pensou que teria sido por ter o seu nome que a elegeu como herdeira entre vários sobrinhos.
Esperou pelas férias para fazer a viagem da capital até à vila e ir ver o casarão. Cheio de pó, com as mobílias cobertas por lençóis, correspondia às suas recordações, mas algumas salas pareceram-lhes mais pequenas e os móveis antigos não escondiam as marcas do uso ao longo do tempo.
Tinha de decidir se o iria vender e resolveu primeiro escolher o que poderia guardar ou até oferecer aos primos para os apaziguar.
Não encontrou nada de valor ou pessoal no rés-do-chão e 1º andar. Subiu até ao sótão, pela primeira vez. Ao contrário do que antecipara era um espaço agradável, com muita luz, um sofá perto de uma estante, num recanto que convidava à leitura, e uma arca ao lado. Dentro desta encontrou uma velha caixa de cartão, abriu-a, e descobriu cartas enlaçadas por uma fita vermelha, fotografias antigas, ainda a preto e branco, conchas e flores secas. Olhou com atenção para as fotografias, recordações de familiares e momentos que não tinha vivido, até que uma lhe chamou a atenção. Nesta reconheceu a tia-avó, quando jovem, meio abraçada a um homem que olhava sorridente para quem os fotograva. A tia estava mais a olhar para ele, revelando o enleio e a paixão que sentia. Seria sem dúvida o seu noivo. Fixou-se mais nele e surpreendeu-se por as suas feições lhe lembrarem alguém familiar. Os olhos bondosos, o sorriso aberto, eram os do seu pai.
Então percebeu. No passado, seria muito difícil a uma mulher sozinha, devastada pelo desgosto, tomar conta de uma criança. Ou porque não estava em si com a dor, ou porque aqueles que sempre pensara serem seus avós o tinham querido, abdicara do filho.

Percebeu que a sua tia era na verdade sua avó e era essa a razão para ter o seu nome e ser sua herdeira.

07 - A Lição de piano

Era criança, quando o seu pai ganhou num jogo de cartas um piano velho. Eufórico exigiu a entrega do prémio que chegou dias depois quando a alegria do pai tinha começado a esmorecer, especialmente pelo confronto com a sua mãe que não estava de todo contente com a nova aquisição. Teve de entrar pela janela por não caber pela entrada estreita do prédio (felizmente moravam num rés-do-chão), e foi instalado na sala. Arranharam as teclas, detectando as desafinadas, colocaram-lhe naperons e retratos em cima, e foram-se esquecendo dele.
Um belo dia, era já ele adulto e tinham os pais ido de férias para a aldeia, calhou reparar com outros olhos no piano. Imaginou-se a tocar grandes músicas e a ser o centro das atenções em concertos e festas. Decidiu: ia aprender a tocar piano.
Foi até ao Conservatório para se inteirar dos procedimentos. Estavam também de férias, mas havia anúncios de aulas particulares e anotou alguns. Ligou para o primeiro número que era de uma professora. Gostou da voz dela, soou-lhe musical, e marcaram uma aula na casa dela.
Conhecia a rua e chegou bem cedo. Gastou algum tempo no café da esquina até reunir toda a coragem necessária para vencer a sua timidez, e lá foi tocar-lhe à porta. Ela própria veio abrir e não correspondia bem à ideia que tinha feito. Em vez de uma jovem, era uma mulher de trinta anos, muito pintada, com cabelo azul, camisa laranja, saia vermelha e sandálias douradas, e lindíssima Apesar das mãos bonitas, com dedos finos, tinha umas unhas compridas, pintadas de castanho, que lhe lembraram garras.
Conduziu-o a um quarto pequeno onde apenas cabiam o piano, dois bancos e uma pequena estante com livros e partituras musicais. Inquiriu-o sobre os seus conhecimentos que eram muito básicos – na iniciação musical apenas aprendera a ler pautas e a tocar (mal) a flauta de bisel.
Resolveu a professora começar a aula tocando uma música simples, mas o que ouviu foram as suas unhas sobre as teclas como castanholas
Não queria melindrar a professora, nem desistir das aulas.
Pensou e percebeu o que tinha de fazer.
Teve de procurar em várias lojas até conseguir encontrar meias de nylon finíssimas que fez questão de oferecer-lhe e pedir-lhe que as usasse, antes da segunda aula.
No dia marcado, a professora aguardava-o com as suas roupas coloridas, as meias, sem malhas, e as unhas cortadas.



06 - Na Recepção

Isto está difícil e faz-se o que se pode para se conseguir um emprego, mas todos os dias se sente culpado por ter declarado que sabia falar islandês. O seu pai, turista ou marinheiro, esteve em Portugal o tempo suficiente para seduzir-lhe a mãe e deixar-lhe o bebé na barriga. Aperfilhou-o, mas nunca houve qualquer contacto, em pessoa ou por escrito. Há dois anos comunicaram-lhe a sua morte. Concordou que doassem a roupa e recebeu pelo correio os seus únicos haveres, um relógio velho e um livro em islandês, a bíblia, com o carimbo de um hotel. Quando afirmou que além do inglês, sabia islandês, tendo um pai islandês, todos acreditaram. Tanto mais que era alourado (saía nisso à mãe, sobre o pai também aqui as versões da mãe se confundem, louro ou grisalho).
Ficou com o emprego: recepcionista no Star Hotel, no turno da noite.
Naquela semana a expectativa tinha sido grande pela chegada do grupo Steal Stone, a mais famosa banda de rock do mundo, como foi amplamente noticiado.
Reservaram todo o 6º andar com a prévia exigência que todos os quartos tivessem mobiliário branco e garrafas de água Perrier - ele e dois colegas andaram a carregar sofás e a pintar armários.
Tinham chegado de tarde e não os viu. O concerto seria no dia seguinte e estariam a recuperar do voo e da diferença horária.
Esperava ter uma noite tranquila – já tinham sido avisados pelo gerente da importância dos hóspedes e “nem pensar em pedirem autógrafos ou selfies!”.
No entanto, pelas três da manhã tocou o telefone e era o líder, Roger Steal a gritar algo que lhe soou como: ” I’ want a portuguese stripper singer”.
Apelando para os seus conhecimentos de inglês e agradecendo a todos os santos, mais uma vez, que a banda, e nenhum hóspede até à data falasse islandês, lembrou-se da sua prima Gracinha que cantava num rancho. Tinha um pouco de buço, mas àquela hora, talvez passasse. Não se recordava era do quereria dizer “stripper”.
Ligou para a prima que acedeu a vir com dois elementos do rancho.
Quando chegaram, a prima um pouco mais gorda, todos vestidos com roupas regionais, levou‑os ao quarto principal.
Estava muito barulho e não o deixaram entrar.
Nem meia hora depois, passavam por ele a correr a prima e os elementos do grupo, afogueados e meios despidos.

Ainda hoje a prima não lhe fala.

05 - O Leilão

O leilão


Foi-se deitar com uma dor esquisita que lhe subia pelo braço. Acordou a sentir-se estranho e saiu sem tomar o pequeno-almoço.
Poucos passos tinha dado quando encontrou o Luís. Já não o via há anos e até tinha pensado se não lhe teria sucedido alguma coisa. Ele veio ter consigo, com todo o à vontade, como se estivessem estado juntos no dia anterior, e anunciou-lhe que estava atrasado para o leilão. Não se lembrava de ter sido convidado, mas seguiu-o obedientemente por ruas estreitas que não conhecia, até um edifício estreito e antigo. Subiram as escadas de degraus de madeira algo inclinados e meio cobertos por uma tapeçaria antiga, em tons de vermelho desbotado. Chegaram a um salão interior sem janelas, com nove ou dez cadeiras, cinco já ocupadas por dois homens e três mulheres de idade, vestidos de escuro. O Luís disse-lhe para se sentar e esperar, e foi o que fez.
Contudo, nem teve tempo para pensar ou observar o que se passava ao seu redor porque por uma outra porta lateral entrou logo o leiloeiro. Era magro e alto, e deu de imediato início aos lances.
Inadvertidamente levou a mão ao rosto para abafar um espirro e apercebeu-se que sem querer tinha licitado uma obra.
Não sabia qual, mas tinha consciência de não ter o valor astronómico para a pagar.
Procurou o Luís quase em pânico.
Queria perguntar-lhe o que fazer para retirar a sua proposta. O seu vizinho do lado apercebeu-se e assumiu a licitação para pagar na íntegra o valor. Quando lhe quis agradecer apercebeu-se que ele lhe era familiar. Lembrava-lhe o seu pai, ou melhor, a si mesmo, só que mais velho.
O seu eu de mais idade virou-se então para ele e disse‑lhe: “Rui, é a tua alma que está em jogo e pela forma como viveres a tua vida é que poderás ou não ter o valor para não a perderes.”
Acordou em sobressalto no seu quarto, ainda com o aperto no peito, rodeado por paramédicos chamados pela mulher.
Confirmou mais tarde que o Luís já tinha morrido há cerca de dez anos, num acidente de viação.
Durante algum tempo pensou se teria tido alguma experiência de pós-morte e se seria um aviso. Teve mais cuidado com a saúde e com a forma como agia com os outros.
Depois voltou a agir como antes e não pensou mais nisso.



04 - Estátua

Queria encontrar o amor e procurava-o na perfeição. Não tinha consciência dos corações despedaçados que ia deixando pelo caminho, nem se importava. O objecto do seu interesse cedo se tornava um aborrecimento. Uma vez conquistado, descobria que afinal não correspondia ao que tinha idealizado. Deitava-se com uma deusa, acordava com uma mulher, de quem então só via os defeitos.
Há cerca de duas semanas quando se deixara deslumbrar por uma conservadora, tinham marcado um encontro naquele Museu. Enquanto esperava por ela, tinha-se deixado vaguear pelas salas, até que num canto, meio escondida, a descobrira. Esculpida em mármore rosa, quase da sua altura, a sua beleza deixara-o sem palavras. Tudo nela era perfeição, as feições simétricas, a proporção no seu corpo. Em pé, a olhar para baixo, parecia aguardar. Tão viva que quase esperaria ouvir a suave respiração, o arfar do seu alvo peito, um pestanejar que a levasse a erguer o rosto e a vê-lo. Nessa altura, fora surpreendido pela jovem com quem se ia encontrar. Dir-se-ia que tinha ficado com ciúmes porque praticamente o arrastou dali. Disse-lhe que a estátua tinha de ser reparada antes de poder ser exposta, o que a ele soou a falso. Dormiram juntos só uma vez, naquela noite. De manhã, disse-lhe que não queria mais vê-la, e teve prazer em dizê-lo, quando normalmente só se sentia era indiferente e vazio por mais uma vez se ter enganado.
Dali em diante começou a sua obsessão. Passou a ir ao Museu todos os dias procurá-la, nos intervalos de trabalho e aos fins-de-semana. Houve dias em que não conseguiu descobri-la. Reparou que a mudavam de sala e normalmente a deixavam em espaços com pouca luz e salas secundárias.

Um dia, conseguiu encontrá-la bem cedo e numa sala vazia. Finalmente apenas os dois. Aproximou-se com cuidado, transpôs o círculo que a rodeava, levantou um braço em direcção ao seu belo rosto e tocou-lhe. Sentiu frio, o gelo que dela vinha, e percebeu. Não iria conseguir despertá-la. A perfeição da sua beleza esculpida e imortalizada no mármore, era de pedra, tão indiferente a ele, como ele tinha sido até àquela data, e afinal imperfeita porque sem vida. Qualquer das mulheres com que se deitara, na imperfeição revelada pela luz da madrugada, a suplantava, apenas por estar viva. A vida era ilusão e decepção, medo e raiva, e o amor era ser capaz de ver a perfeição da imperfeição.

03 Morte no Lago dos Cisnes

Cerrou-se a cortina e irromperam os aplausos.
Era a altura de virem agradecer, e uma menina da companhia aguardava já preparada com o ramo de rosas para ofertar à primeira bailarina.
Alexandre pensou primeiro que Tatiana estaria a brincar porque não se mexia. Ficara imóvel depois do salto para o lago, na realidade, para um colchão, longe do olhar do público. Alexandre seguira-a no salto e ficara a escutar a música, quase conseguindo ver os passos que se seguiam: a morte do mago e a libertação de cisnes das restantes jovens enfeitiçadas, na iluminação rosa do amanhecer.
Apenas quando tudo terminou é que olhou melhor para ela, viu que continuava na mesma posição ao invés de como de costume se preparar para acolher o seu público, e receou que pudesse ter desmaiado. Tocou-lhe e sentiu-a estranhamente molhada. Acenderam as luzes e notou ao mesmo tempo o sangue na sua mão e no tule do vestido branco. À sua volta também os demais repararam e rodearam-nos. Um pequeno círculo no peito indicava que tinha sido baleada e já não parecia respirar. Não conseguiam localizar Rothbart, o agente da secreta, porque entusiasmado com a maquilhadora Odile se tinha perdido com ela num dos camarins.
Lá fora a ovação aumentava e o Director teve de dirigiu-se ao palco para anunciar que Tatiana Lazla não se estava a sentir bem e por isso não viria corresponder e despedir-se.
Chamaram uma ambulância e a polícia. Os médicos constataram a sua morte. Os agentes policiais, chegaram ao teatro pouco depois e verificaram que uma parte dos espectadores tinha já saído. Encerraram as portas, mas era demasiado tarde, não conseguiram descobrir a arma, nem nada de suspeito.
Para o mundo inteiro, Tatiana Lazla tinha morrido, vítima do crime perfeito, presenciado por centenas de testemunhas que a viram cair, mas acreditaram que fazia parte da coreografia.
O seu homicídio permaneceria para sempre um mistério, e ficariam sem resposta as questões sobre quem a tinha morto e a razão porque o tinha feito.
Para todos? Talvez não.
Como Alexandre viria a saber muitos anos depois, Tatiana, amante do secretário do Ministro da Defesa, Siegfried Odette, tinha estado a facultar informações à CIA até levantar suspeitas. Com a missão e identidade comprometidas, apenas a simulação da sua morte a poderia salvar e aos seus poucos familiares.
Não dançou mais em público, mas viveu o resto da sua vida em liberdade.


02 - Um grande Amor

Filme: Um grande amor
Última cena: Despedida
Cenário: O Hospital central, à noite. Lá fora chove, afastando os últimos transeuntes, que em passos apressados se abrigam sob os edifícios ou correm para os carros, sublinhando a ideia de vazio. Numa sala, perto dos Cuidados Intensivos, Helena e o cunhado encontram-se com dois médicos. Helena sentada a um canto da mesa parece meio alheada da conversa.
Num flashback ou cena retrospectiva, assistimos a uma sua memória de um momento que viveu com o marido. Os dois mais jovens, ainda só namorados, num dia de verão. Ela deitada na relva, ele sentado, entusiasmava-se a expor-lhe as ideias que tinha para um trabalho, e ela resolveu fingir que tinha adormecido. David representou então o príncipe encantado para a acordar com um beijo e acabaram a rir os dois.
Helena desperta para o presente ao perceber que os médicos falam sobre o traumatismo devido ao acidente, coma irreversível e doação de órgãos.
Levanta-se, e diz: “quero uns momentos a sós com ele para me despedir”.
Um dos médicos leva-a até ao quarto e sai, encostando a porta. Ali a luz é mais ténue e centra-se no leito.
Deitado com a cabeça ligada, o ritmo cardíaco monitorizado e a soro, ele parece dormir.
Helena senta-se ao seu lado. As lágrimas descem pelo seu rosto vagarosamente e é com uma voz suave que se dirige a ele: “foste o melhor dos amigos, o melhor namorado e marido que poderia ter, ofereces-te sempre tudo e por isso nunca antes te pedi nada, mas meu amor não te posso deixar ir, não quero viver num mundo em que não estejas, não me deixes”. Helena inclina-se, fecha os olhos e beija-o nos lábios demoradamente. Quando acaba o beijo, afasta-se só alguns centímetros, abre os olhos e olha-o com esperança.
É só o seu rosto que a Câmara mostra.
Da esperança passa para a decepção e para o desespero.
Levanta-se fora de si, em direcção à porta e é barrada pelo cunhado que entretanto também viera para o quarto. Procura refúgio nele, mas este estranhamento não retribui o abraço e interpela-a: “Olha!”.
Só então a Câmara se centra na cama. O rosto de David permanece impassível.

A Câmara desce pelos seus braços e foca-se na mão esquerda. David ergueu dois dedos e não se trata de um movimento reflexo, mas intencional.

01 - O Quadro



Se fosse pintora e pensasse em pintar um quadro, tentaria pintar a casa. A dos seus pesadelos, a que mesmo sem querer a assombra, sempre que se esquece de não se permitir lembrar.
Era tão jovem então. Tinha terminado o liceu. Não pensava, como algumas das amigas em ingressar na universidade e tinha o verão à sua frente. Como nos outros anos, iam passá-lo à aldeia, na casa dos avós paternos. Depois, pensaria em arranjar um emprego, talvez como modelo ou hospedeira porque lhe diziam que era bonita e era também o que via na atenção dos homens e lhe dizia o espelho.
Acordavam tarde, iam para a praia no rio, levando sandes. Regressavam para se arranjarem e voltarem a sair, para festas de garagem.
Reencontrou o Pedro, continuando sem gostar dele por o achar convencido, mas gostou que ele a escolhesse. Um pouco mais velho, com carro, combinou ir buscá-la a casa para irem a uma festa longe.
No regresso, em noite de trovoada de verão, o carro avariou.
Estavam perto da casa dos tios dele, meio abandonada desde que há anos o primo desaparecera.
O Pedro desactivou o alarme e entraram. Levou-a para a sala, mas não acendeu as luzes, apenas uma pequena de presença que incidia sobre um quadro em destaque no meio da sala. Ele disse-lhe para olhar para a tela. “Tem um segredo, apenas alguns o conseguem ver, não aparece em fotografias e ninguém descobriu ainda como foi feito, que efeito de luz faz com alguns vejam e outros não, mas não te posso dizer o que é porque se o fizer, já não o conseguirás ver. Olha bem para ele e vê em que grupo estás enquanto vou buscar algo para bebermos.
Olhou com mais atenção Era uma pintura de uma casa, daquela casa em noite de tempestade. Dois raios atravessavam o quadro e caíam sobre a casa. Lá fora um raio iluminou a noite. Ela estava a olhar para a casa, para as janelas escuras e assustou-se. Numa janela do segundo andar pareceu-lhe ver um rosto, um homem que lhe disse "foge".
E ela fugiu.
Começaram então os pesadelos.
Até que uma noite voltou à casa. Entrou por uma janela aberta e dirigiu-se à sala. Levara consigo uma faca e estraçalhou o quadro.
Diagnosticaram-lhe um ataque‑de‑nervos e foi internada.
Soube depois que o primo do Pedro, chorado como morto pelos pais, tinha aparecido.